Do costume ao ofício de consertar relógios

Publié le 26/11/2014 à 11:01 par notebook2

Uma sala para relogios baratos de parede e despertadores. Outra, menor, para os de pulso e de bolso. E uma recepção para acolher quem chega. O espaço do relojoeiro Jairo Teixeira, 70, é procurado por colecionadores de itens raros e por clientes com peças defeituosas. Descobriu a paixão menino, quando quis conhecer por dentro o despertador dado de presente pelo pai.

No bairro Antônio Bezerra, foi ajustando os relógios de vizinhos e conhecidos, sem cobrar. Foram chegando engrenagens pedindo peças mais caras, de fabricação suíça. Surgiram clientes diferentes, os “de ouvir falar”. Virou profissão. Com pagamento e ponto comercial no Centro desde 1964. Está hoje no Edifício Triunfo.

Chegam às mãos de Jairo relógios de marcas, épocas e mecanismos diversos. Os de quartzo são os mais baratos, popularizados a partir de 1972. Práticos, com maior precisão e funcionamento contínuo. Funcionam com bateria e circuito integrado. A manutenção não depende só do talento do relojoeiro: a parte elétrica exige seus próprios cuidados.

No entanto, a clientela mais fiel de Jairo quer reparos em relógios mecânicos, os mais antigos. Rodam impulsionados pelos movimentos do corpo ou pelo ato de “dar corda”. Podem atrasar ou adiantar com tolerância de cinco minutos. E o conserto é complexo. São exigidas mais peças para reposição. Por isso, as salas de Jairo guardam também o espaço da sucata.

Cada modelo tem história. Como dois na parede, com caixas de madeira e fabricação de 1882. Ou os anteriores a 1880, sem badaladas de meia em meia hora. Relíquias, objetos de estimação e de lembranças familiares. “Consegui consertar um relógio de pulso para um desses clientes. Apareceram interessados em comprar por R$ 10 mil, até de R$ 25 mil. Não vendeu, era presente do pai”. Era um Daytona Paul Newman, artigo raro da Rolex. vendas de relogios

 

Na rua São Paulo, a sala de Wilson Gomes, 63, exibe relógios antigos aguardando conserto. Assim como Jairo, ajusta modelos de quartzo e os mecânicos. O reparo dos raros rende mais dinheiro. Porém, são comuns as procuras por troca de pulseira e bateria para relógios mais modernos. “Estes de hoje não prestam mais como os da minha época”, queixa-se.